AUSÊNCIA
Apartada dos meus sonhos
E dos teus olhos ausente,
Perdi o amor pelas palavras
Que eu usava como espada
Ou como bandeira hasteada,
Mas sempre como semente.
Com elas fazia versos
Cantando os risos e as dores
E a transparência do amor.
Falava do rio que eu era
E do barco à vela que foste,
P'ra me poder navegar.
Abriste sulcos tão fundos
Nas águas do meu sentir
Que a minha voz se partia
E o meu coração sangrava
Sempre que neles caía
Sem vontade de emergir.
Emudeci no poema
Perdi o brilho no olhar.
De rio, passei a deserto
Que percorro devagar
Escalando cada duna
Na ânsia de ver o mar.